Instituto Pensar - Processo de remarginalização da juventude negra

Processo de remarginalização da juventude negra

por: Juliene Silva


A partir desta quinta-feira, a cada duas semanas, a Juliene Silva (PSB-RJ) assina a coluna exclusiva para o Socialismo Criativo Juventude em Movimento. Militante do Partido Socialista Brasileiro (PSB), ajuda, desde os 16 anos a construir um país melhor, mais igualitário e com mais respeito e liberdade.

Ela começou a atuar na política ainda cedo, aos 12 anos Juliene já acompanhava a mãe, assistente social, nas conferências da categoria em seu município, Pinheiral (RJ). Aos 14, já era presidente da associação de moradores do bairro onde morava e, aos 16, iniciou sua militância partidária no PSB.

Secretária-geral da União Nacional dos Estudantes Secundarista (Ubes) em seu segundo mandato, ela vê em ambas as frentes, social e partidária, a convergência perfeita entre necessidade de transformação e ação. Candidata à prefeita de sua cidade, enfrentou com dignidade e força uma máquina política velha que, apesar de não dar espaço para a transformação, não fez e nem nunca fará Juliene desistir de ocupar os espaços.

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Boa leitura!

Processo de remarginalização da juventude negra

O futuro do trabalho se tornou um tema frequente nas rodas de conversas jovens, a juventude do programa REUNI ? Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que se via enquanto a primeira geração da família a ocupar as universidades e ter reais possibilidades de construir uma nova dinâmica econômica familiar, hoje se vê direcionada a ocupar novamente os subempregos para garantir sua subsistência.

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O Brasil soma, no primeiro trimestre de 2021, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 14,8 milhões de trabalhadores desempregados, oriundos das desastrosas políticas econômicas neoliberais, da falta de investimento em setores essenciais e da incapacidade do atual governo em conter os agravamentos desencadeados pela pandemia da Covid-19. Em se tratando de jovens entre 18 e 24 anos, ainda segundo dados do IBGE, a taxa de desemprego é de 29%, o que corresponde a quase 4,1 milhões de jovens à procura de emprego.

Por óbvio que índices de desocupação tão altos geram sérios impactos econômicos e sociais. Todavia, não vamos tratar aqui dos impactos gerais do desemprego, mas das suas consequências na população jovem, negra e de baixa renda, que acessou o ensino superior.

A juventude da qual eu e meus amigos fazemos parte, cresceu na perspectiva do subemprego, herança da percepção escravocrata no Brasil que mantém pretos, pardos e pobres predestinados aos empregos de baixa remuneração. Por meio das políticas de acesso ao ensino superior ? Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Financiamento Estudantil (FIES) e Programa Universidade para Todos (Prouni) ? vislumbramos a oportunidade de ascender socialmente, nos tornando médicos, engenheiros, advogados, jornalistas, designers etc. e com isso quebrar o ciclo da extrema pobreza familiar. 

Contudo, estamos falando de um processo que acarretou mudanças significativas no acesso e poder de compra da população pobre, mas que não realizou mudanças estruturais. Toda sensação de mudança econômica proveniente dessas medidas esbarrou na falta de transformações estruturais que subsidiassem sua continuidade ao longo do tempo.

Sem mudanças estruturais, o cenário pós-impeachment acentuou aquilo que já estava ruim. Retrocedemos progressiva, mas rapidamente, nos acessos adquiridos nos 13 anos de governo PT e com as políticas do governo Bolsonaro acrescidas das crises desencadeadas pela pandemia do coronavírus, a juventude do Reuni se tornou a juventude do Uber e do telemarketing.

Aqui existem dois dados que precisamos destacar. O primeiro é que entre o elevado índice de jovens desempregados, as taxas são maiores entre os negros do que entre os brancos. A segunda é que entre os jovens empregados a média salarial dos brancos é maior do que a de jovens negros. 

O que estou desenhando é: historicamente, brancos têm mais acesso e melhores salários do que pessoas negras. Isso muda com acesso educacional, todavia em momentos de crise e crescente taxa de desemprego, a maioria dos que saem do mercado somos nós, negros. 

Sem uma adequada política de emprego, renda e assistência nos agarramos a qualquer oportunidade que garanta comida na mesa (mesmo que sem carne). O que nos prende em turnos de 12 horas, se contados tempo de deslocamento, que não nos permitem ampliar a qualificação e procurar outras oportunidades com facilidade.

Já a juventude branca historicamente tem mais acessos, melhores salários e quando afetada durantes momentos de crise tem uma estrutura econômica familiar montada que lhe permite focar durante esse período em qualificação e/ou procurar calmamente por novas oportunidades, podendo aceitar somente aquelas que se adequem à sua profissão e média salarial que acredite ser adequada. 

Nesse cenário, o que está se concretizando são retrocessos sociais de difícil reparação para a juventude negra e periférica. Para nós, vai além de um momento de crise econômica, mas se trata de uma eficaz ação de marginalização, que sem os devidos recortes de raça e classe, pode se manter mesmo diante de uma futura retomada econômica.

Enquanto isso, o filho do Bruno Covas, com 16 anos, ganha um estágio no governo de Dória. Aí está a manutenção do status quo.



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